Paris ou o quê?

Paris ou o quê?
Washington Square Park

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Romã e Raki

É da janela do taxi que corre pela Kennedy Cad (Sahil Yolu) que me dou conta de que estou em um lugar especial. Através do vidro do carro que aos poucos entra no coração da cidade, vislumbro a paisagem de Istambul fortemente demarcada pelos minaretes espalhados por toda antiga Constantinopla. Além de serem parte integrantes da beleza de uma mesquita, essas torres guardam os alto-falantes que chamam os fiéis à oração.
Do outro lado dessa extensa avenida brilha sob o sol o Mar de Mármara, que junto com o estreito de Bósforo e o Golden Horn, ou chifre dourado, testemunhou a colonização bizantina, o império cristão de Constantino e a tomada Otomana. Mas a única cidade do mundo que é dividida por dois continentes – Europa e Ásia – não é apenas história. Istambul é, além de tudo, sabores, sorrisos, cores, odores, música e, principalmente, joie de vivre.
À chegada do hotel, fui recebido com um clássico chá turco que é oferecido às pessoas quando nascem os bebês. Minha presença naquele lugar foi celebrada.  E continuava a ser, pois toda vez que me dirigia a alguém, os sorrisos de boas-vindas se abriam. Os turcos só faltam estender um tapete vermelho para o turista, sempre com um sorriso de orelha a orelha, orgulhosos por receberem gente de tão longe...tudo bem, os bons tratos deixam implícito o quanto eles querem que você compre seus produtos. 

Contente por estar na cidade das sete colinas, decidi que o primeiro passeio por Istambul seria pelo impressionante bairro histórico de Sultanahmet, o coração do império Otomano. Andar por suas ruas torna inevitável uma parada para saborear um copo de suco de romã, feito na hora, em um dos vários pontos montados nas calçadas. Continuo minha caminhada até a Mesquita Azul, cujo lado oposto está também a não menos famosa Aya Sofia, antiga Basílica da Santa Sabedoria. Estar entre esses dois monumentos me fez entender exatamente o que é estar no coração de uma cidade multicultural.
Não menos importante que explorar Sultanahmet e experimentar a imperdível experiência de barganhar preços no Grand Bazaar e no Spice Bazaar é fazer um tour de barco pelo Bósforo. Um dos itinerários me leva até o lado asiático, de onde posso contemplar o mar Negro das ruínas de um antigo castelo otomano. Durante o passeio de 90 minutos, é possível verificar nos dois lados do estreito os palácios de madeira. Construídos no século XIX, a maioria deles está restaurado e em perfeitas condições, servindo ainda é moradia de famílias endinheiradas. Do lado europeu do Bósforo também estão os palácios Dolmabahçe e o Çiragan Kempinski, construídos como residência dos sultãos da época em meados do século XIX. O primeiro está aberto à visitação, enquanto que o segundo é um hotel super luxuoso.
No momento da fome, há os milhares de restaurantes onde pude experimentar o Raki, um aguardente feito de anis; saborear os Mezzes – entradinhas, Kebaps, Köftes – churrascos de carne de boi, frango ou carneiro, assim como os baklavas e os turkish delights de sobremesa até lamber os dedos. É fácil terminar sua refeição embriagado e com a sensação de que comeu demais. Nozes, pistaches, damascos, passas, iogurtes, especiarias, romã. Certamente Istambul deixou saudades; saudade no olhar e saudade no paladar.